domingo, 6 de novembro de 2011

A Inclusão Digital em Quatro Dimensões

Ao ser divulgado em 2004, o Relatório sobre o Desenvolvimento Mundial do  Banco Mundial apontava que os programas governamentais voltados para a área social, principalmente no que se refere aos serviços essenciais, “geralmente são deficientes para os pobres no que diz respeito a acesso, quantidade e qualidade, comprometendo as Metas de Desenvolvimento do Milênio (MDM)”.


Antes de prosseguirmos, cabe, neste ponto, frisar o que diz o item 20 dos Objetivos do Milênio, da Organização das Nações Unidas – ONU , que garantem: “velar para que todos possam aproveitar os benefícios das novas tecnologias, em particular das tecnologias da informação e das comunicações, de acordo com as recomendações formuladas na Declaração Ministerial do Conselho Econômico e Social de 2000”.Em continuidade aos levantamentos do mesmo Relatório, em 2006,foram enfatizados os princípios da eqüidade e do desenvolvimento, não visando como objetivo a igualdade de renda, mas a expansão do acesso às tecnologias, por parte das pessoas de baixa renda. Para o relatório, a eqüidade se define, fundamentalmente, “como igualdade de oportunidades entre as pessoas, parte integral de uma estratégia bem-sucedida de redução da pobreza em qualquer parte do mundo em desenvolvimento” 


Em 2007, o Relatório sobre o Desenvolvimento Mundial traz em seu temário central: o desenvolvimento e a próxima geração. O documento traduz, em sua essência, a condição de cerca de 130 milhões de jovens de 15 a 24 anos, que não sabem ler nem escrever. Para esta pesquisa, convém ressaltar, ainda, outro apontamento do mesmo Relatório, ao defender a participação política e o envolvimento dos jovens em organizações sociais como elementos essenciais à promoção de sua vida cívica nas respectivas comunidades, fator vital para a boa governança. Assim, os especialistas do Banco Mundial que produziram o documento identificam três políticas estratégicas que podem aumentar o investimento nos jovens, são elas:


a) Ampliação de oportunidades;
b) Melhoria das capacidades; e
c) Oferecimento de segundas oportunidades para jovens que “ficaram para trás” em conseqüência de circunstâncias difíceis e más escolhas.


“Essas políticas abordam cinco transições fundamentais enfrentadas pelos jovens e que afetam toda a sua vida econômica, social e familiar, a saber: conseguir educação, encontrar emprego, manter-se saudável,constituir família e exercer a cidadania”, complementa o documento. Com isso destacamos que “é importante proporcionar informação aos jovens e
desenvolver sua capacidade de tomar decisões, especialmente para permanecerem saudáveis e desfrutarem do aprendizado contínuo. Munidos da informação correta e de incentivos, esses jovens podem tomar boas decisões”.


são acerca da informação e da comunicação que nos envolvem no ciberespaço. Sobre isso, Warschauer (2003, p. 131) comenta que “as questões associadas à língua afetam profundamente a maneira pela qual diversos grupos podem acessar e publicar informações na web, assim como a extensão pela qual a  Internet serve como meio de expressão de sua identidade cultural”. Devemos e podemos estimular esse novo sujeito tecnológico a atuar em movimentos proativos, voltados ao deslumbramento pelas artes, pela espiritualidade, como parte do processo civilizatório da nova humanidade tecno-info-comunicacional.


Temos em pauta o indício do terceiro fator que se relaciona aos demais. Trata-se das questões inerentes à perda da identidade cultural dos usu-ários da Internet, anteriormente citada. Freire (2005, p. 3), nos alerta sobre o processo de globalização, dizendo que “esta idéia de identidade unificada e estável está sendo fragmentada, apresentando-se não mais como uma única identidade, mas como uma composição de várias identidades, algumas vezes contraditórias ou não resolvidas”. A partir do encontro com sua própria identidade que perseguimos nessa pesquisa por meio da associação entre a educação e os conteúdos produzidos pela comunidade para Internet (a associação do primeiro, segundo e terceiro fatores), o grupo pode vir a se reconstruir socialmente, nos remetendo ao quarto fator: a deficiência no processo da alfabetização informacional. Sobre esse quarto fator discorreremos adiante nesta parte, mas, antes ainda, trazemos o que nos diz Suaiden (2000), ao apontar para esse fenômeno que chamamos de abismo do acesso à informação e ao conhecimento: No final da década de 80, especialistas afirmaram
que a sociedade da informação seria uma sociedade voltada para o compartilhamento dos recursos e para o bem-estar social. As primeiras avaliações apontam que as desigualdades estão aumentando, e, na atualidade, os donos do poder são os donos dos meios de comunicação (SUAIDEN, 2000, p. 56).
O cenário de posse da informação aparenta manter-se, em parte, por isso, iniciativas buscam contornar essa afirmação no que se refere às mídias digitais. Sobre isso, nos acena Freire (2004) que nas relações descentralizadas e verticalizadas entre produtores e consumidores de informação e conhecimento, as mídias digitais possibilitam que ambos possam permutar 34
Valéria Mendonça
suas funções e papéis sociais, ora como produtores, ora como consumidores dos processos de conteúdos que circulam na mídia digital (FREIRE, 2004a, p. 189).
No Brasil, a mesma realidade em torno do acesso do grupo de jovens às TICs em face do Relatório do  Banco Mundial pode ser encontrada, principalmente com o trabalho desenvolvido por Organizações não Governamentais, a exemplo do  Comitê para Democratização da Informática (CDI), que em seu relatório de gestão de 1995 a 2005, registrou mais de meio milhão de pessoas capacitadas e 5.778 computadores instalados nas comunidades (CIDADANIA DIGITAL, 2005, p. 29); além de alguns governos, que optaram investir em consórcios públicos-privados para levar o acesso à tecnologia à comunidade, a exemplo de Piraí, no Rio de Janeiro, considerado um dos primeiros municípios digitais brasileiros; seguido de Tiradentes, em Minas Gerais. Outro exemplo público encontra-se no município paulista de Sud Mennucci, localizado na região oeste de São Paulo, onde, até abril de 2007, 700 dos 1.500 domicílios possuíam acesso à Internet, dos quais 200 eram de baixa renda. Essas boas práticas de gestão, e outras, não citadas, encontradas pelo país e às quais não iremos nos aprofundar, referem-se à explosão do uso da Internet em situações adversas às potencialidades registradas em grandes capitais com tecnologias avançadas no país, São Paulo, Belo Horizonte, Rio de Janeiro e o Distrito Federal.
As mesmas dificuldades das ações de governo encontradas em outros documentos de alcance mundial comprometem o efetivo sucesso dos Objetivos do Desenvolvimento propostos pela ONU, que preconizam a redução da pobreza e a melhoria dos indicadores de desenvolvimento humano.

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